a cidade de évora era aqui ao lado
ou era aqui por dentro
e onde já fui muralha e praça do giraldo
ou fontanário donde corria o tempo
tornado pedra cristã e muçulmana
eu fui a sé as grades da janela
os meus ossos o templo de diana
e o meu templo os ossos da capela
na bola-de-cristal-granito imensa
onde se sentam meninos velhos vi que
eu fui o soldado em gozo de licença
e também a puta da rua de terrique
por cima os arcos as velas o incenso
vou deitado e ferido que a pena é tanta
na negritude do silêncio intenso
da procissão de sexta-feira santa
e a minha face foi a carranca
donde sai água luar e claridade
e fui o puro assombro da cal branca
de um sem-pavor nas noites da cidade
no dédalo de ruas e telhados
teci de saliva e desalento
feito insecto raro e fechado
o casulo do meu envolvimento
a cidade de évora era aqui ao lado
ou é aqui por dentro
Henrique Ruivo
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