Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Lisboa

NOCTURNO DA GRAÇA

Há um rumor de bosque no pequeno jardim
Um rumor de bosque no canto dos cedros
Sob o ímam azul da lua cheia
O rio cheio de escamas brilha.
Negra cheia de luzes brilha a cidade alheia.

Brilha a cidade dos anúncios luminosos
Com espiritismo bares cinemas
Com torvas janelas e seus torvos gozos
Brilha a cidade alheia.

Com seus bares de becos e de escadas
De candeeiros tristes e nostálgicas
Mulheres lavando a loiça em frente das janelas
Ruas densas de gritos abafados
Castanholas de passos pelas esquinas
Viragens chiadas dos carros
Vultos atrás das cortinas
Cíclopes alucinados.

De igreja em igreja batem a hora os sinos
E uma paz de convento ali perdura
Como se antiga cidade se erguesse das ruínas
Com sua noite trémula de velas
Cheia de aventurança e de sossego.

Mas a cidade alheia brilha
Numa noite insone
De luzes fluorescentes
Numa noite cega surda presa
Onde soluça uma queixa cortada.

Sozinha estou contra a cidade alheia.
Comigo
Sobre o cais sobre o bordel e sobre a rua
Límpido e aceso
O silêncio dos astros continua.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Sem comentários: