O vulcão da Ilha do Fogo e a Chã das Caldeiras
"A Ilha do Fogo é o mais belo exemplo, no Oceano Atlântico, de um aparelho eruptivo completo, emergindo das ondas com a regularidade de um modelo clássico. Esse aparelho resultou da sucessão de várias fases, cada uma marcada na topografia da ilha por um conjunto de formas. O cone primitivo, truncado pelo cimo da Bordeira, tinha dimensões gigantescas e aparece rodeado de fiadas ou rosários de pequenos cones adventícios de cinzas e de lavas, montículos regulares, com ou sem cratera conservada, que de qualquer ponto que a vista abranja se contam por dezenas.
A Chã das Caldeiras formou-se posteriormente a esta fase eruptiva, por um abatimento circular gigantesco da parte superior do cone primitivo. A ilha perdeu altura; mas a actividade eruptiva; mas a actividade eruptiva renasceu no interior da depressão assim formada. A acumulação de cinzas, escórias e lavas edificou o cone secundário, conhecido geralmente por "Vulcão", pois conserva, com admirável frescura, a forma destes acidentes. Em todo o caso, não se conhece nenhuma erupção deste cone. A chaminé vulcânica deve estar obturada por um tampão de lava, que só uma erupção violenta poderá remover. A pressão dos gases internos vai abrindo outros caminhos: a série de fendas radiais profundas que rodeiam o cone e deram saída aos materiais eruptivos que formam os pequenos cones adventícios do interior da Chã. Esta espécie de "filhos do vulcão" constitui, na história das erupções da ilha, a sua última geração - a única com que os habitantes parece terem travado conhecimento.
Por estas fendas se dá a subida de lavas de bolsas profundas, que ao fim de algumas semanas se esvaziam."
(Texto datado de 1952)
Orlando Ribeiro (1990). "As Erupções do Fogo e a Vida na Ilha". Opúsculos Geográficos. III Volume: Aspectos da Natureza. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. p. 26
Sem comentários:
Enviar um comentário