Montado de azinheiras |
"O montado é uma mata rala e nunca um bosque cerrado. Resultante do crescimento espontâneo das árvores, tem na origem a razão do seu aspecto. Sobreiros e azinheiras faziam parte de um maquis complexo de estevas, urzes, giestas e aroeira, em que medravam esparsos e afogados. Foram as grandes arroteias do fim do século passado* que, libertando as árvores do matagal envolvente, aumentaram a extensão do montado. Consoante se fez o desbaste, assim resultou para aquele uma fisionomia diferente. Nas melhores terras, os barros ou solos argilosos e profundos, as boas colheitas e os pousios curtos tendem a reduzir o arvoredo, por ser um estorvo à lavoura. Hoje arranca-se em muitas herdades para facilitar o trabalho das máquinas agrícolas. Nas terras galegas, xistentas, pedregosas, delgadas, nas ondulações mais vigorosas do relevo, onde a lavoura passa de anos a anos, o montado chega a ter papel preponderante na economia. A seara é então subsidiária: faz-se porque é preciso lavrar para manter a terra limpa e evitar a regeneração do matagal. Lavrou-se, semeou-se: seja qual for o resultado, nunca ele representará prejuízo. Alguns tractos mais acidentados do Alentejo - a Serra de Portel, os relevos litorais de Grândola e do Cercal, as abas da Serra algarvia - mostram que, onde o terreno se alteia e se ondula, cortado de barrancos, o sobreiro e a azinheira ensombram cabeços e covas. E todos são concordantes em afirmar que, depois de se romperem as últimas charnecas, o arvoredo aumentou."
Orlando Ribeiro (1991). "O Campo e a Árvore em Portugal". Opúsculos Geográficos. IV Volume: O Mundo Rural. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. pp.75-76
*século XIX
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