As catástrofes naturais acabam por ter como consequência, por um lado, desvendar situações de exclusão e de miséria que estavam mais ou menos camufladas e, por outro, a incúria de quem tem poderes para decidir sobre a ocupação do território. As populações mais vulneráveis são as mais fortemente atingidas. Vimos já isso em deslizamentos que acontecem frequentemente nos bairros de lata, por exemplo, do Brasil, quando as situações meteorológicas determinam grandes chuvadas; nos tsunamis que têm afectado regiões inteiras do Oriente; nos terramotos que têm acontecido nas áreas mais sensíveis a este tipo de fenómenos.
Mas o que vimos no Funchal é tão chocante nas áreas mais pobres como na parte que constituía um autêntico bilhete postal da cidade. Ver a força da água, potenciada pela enorme quantidade de materiais por ela transportados, galgar os canos em que foram transformados os leitos das ribeiras, romper estradas e ruas, destruir casas e pontes, foi um espectáculo aterrador.
Tudo isto veio mais uma vez chamar a atenção para o perigo de se ocupar o território de modo desorganizado e sem respeitar as leis da natureza. Desde há muitos anos que especialistas, nomeadamente, geógrafos, vêm chamando a atenção para a necessidade de um planeamento mais rigoroso. As análises que têm sido feitas na sequência de cheias, nomeadamente as que registaram na região de Lisboa, com especial relevo para as de 1967, explicando os factores que determinaram a perda de vidas e de bens, não tiveram qualquer efeito sobre a decisão de autorizar a ocupação de áreas de elevado risco. Infelizmente, não há mecanismos para apurar responsabilidades sobre estas decisões.
Mesmo aqui, neste canto do Alentejo, apesar de a orografia não ser propícia para acontecimentos tão graves como o da Madeira, não deixa de ser preocupante ver encanar linhas de água e construir sobre as mesmas. A prevenção continua a ser a melhor maneira de evitar desastres. Esperemos que estas lições sejam percebidas pelos responsáveis pela gestão do território, para que não venhamos a lamentar desastres que podem perfeitamente ser evitados.
1 comentário:
José Manuel Capêlo faleceu hoje.
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