Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Amor platónico

A minha primeira relação com a escola foi no já longínquo mês de Outubro de 1949 quando fui para a escola primária. Na vila existia uma escola de rapazes, num edifício antigo, e uma escola de raparigas que funcionava em duas salas, uma de cada lado da mesma rua, em edifícios escolares característicos da I República, com as suas grandes janelas. Havia ainda uma senhora diplomada pelo Magistério Primário que preparava os filhos da gente rica (ou com pretensões a isso), em regime de ensino doméstico, para se apresentarem a exame.
Tive duas professoras: uma na 1ª classe e outra da 2ª à 4ª classes. Da primeira, as lembranças são muito difusas. Era uma senhora simpática e atenta aos alunos. A segunda era solteirona, feia, beata, violenta e impiedosa. Fazia a vida negra às alunas que davam mais de quatro erros ou não sabiam as lições de cor. Usava constantemente o ponteiro e a régua larga e ensebada do uso que lhe dava. Tinha uma paixão secreta pelo Senhor Presidente do Conselho, Doutor António de Oliveira Salazar. Como é que ficámos a saber dessa paixão?
Num dos anos, não sei bem qual, a professora resolveu mandar um telegrama de felicitações pela passagem de mais um aniversário do Senhor Presidente do Conselho. Estávamos um belo dia na aula quando chegou o carteiro para entregar um telegrama. Ela abriu-o e a cara, habitualmente fechada, iluminou-se: os olhos brilhavam, marejados de lágrimas de emoção, havia nela uma certa excitação que nos era estranha. Então, não resistiu a partilhar com a classe o motivo da sua enorme alegria: o telegrama era do Senhor Presidente do Conselho a agradecer as felicitações que ela lhe tinha enviado. Nunca mais tivemos o gosto de presenciar uma cena semelhante, porque, bem depressa, voltou ao que sempre era.

2 comentários:

Anónimo disse...

O que contas é comum aos relatos que os meus pais fazem da escola desse tempo, da nossa terra. O "quero, posso e mando" era infinito e as atrocidades sucediam-se sem haver uma única voz que se levantasse contra. A minha mãe fez apenas a 3ª classe porque já não conseguia aguentar a violência da professora. Uma tristeza!!
Um beijinho e obrigada por me dares a conhecer este teu outro lado "blogueiro"

Júlia Galego disse...

Amiga daplanície, não me admirava nada que a tua mãe tenha sido vítima da que foi também minha professora. Se calhar, até fomos colegas. Temos de investigar isso.
Beijinho