Mais uma vez a chuva intensa provocou cheias na região da Grande Lisboa, sendo o concelho de Loures um dos mais afectados.
Nos noticiários da televisão passaram imagens de Sacavém, da Calçada de Carriche, da Ponte de Frielas e de Loures. A água atingiu volumes muito elevados, acumulou-se nos pontos mais baixos e trouxe consigo um rasto de destruição.
No entanto, tudo isto era previsível. A bacia hidrográfica do Rio Trancão é um grande funil, abrangendo territórios de vários concelhos, que encaminha a água para a estreita abertura do vale na parte terminal deste rio. Sendo muito baixa a altitude da planície de Loures e do leito do rio a jusante desta, a conjugação da chuva muito intensa com a maré alta pode ocasionar uma situação de catástrofe.
As condições naturais são propícias ao acontecimento das cheias. No entanto, durante anos e anos, tem vindo a assistir-se à progressiva impermeabilização dos solos devido às urbanizações que cresceram e continuam a crescer sem qualquer critério que não seja o da especulação imobiliária. Como a construção comanda todas as decisões, são entubadas as linha de água e, com alguma frequência, constrói-se sobre elas. O leito de cheia de algumas ribeiras não é respeitado e, como acontece muitas vezes, as casas e as estradas lá construídas acabam por potenciar o efeito destrutivo dos elevados caudais que se registam nessas linhas de água quando acontecem situações meteorológicas que determinam valores de precipitação pouco normais.
A grande tragédia provocada pelas cheias de 1967 e por outras que se seguiram, não serviu de lição a quem tem o poder de decidir sobre o (não)ordenamento do território. Não compreender as forças da Natureza e os limites da intervenção humana, leva a situações de graves danos patrimoniais e a dramas pessoais intoleráveis.
Mas, como acontece noutras situações, os responsáveis por este estado de coisas nunca são identificados publicamente e não respondem pelas decisões que tomaram.