Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Mês de Orlando Ribeiro

Praça do Giraldo, Évora.

"Comparando Évora, por exemplo, com Toledo, pois esta cidade espanhola encontra em Évora talvez a cidade ibérica com a qual tem maior identificação pela densidade dos valores artísticos, e também comparando Toledo com Braga. cidades semelhantes pela importância eclesiástica, sendo hoje Braga um centro em plena evolução industrial e activa modernização, verifica-se que Toledo apresenta, fora da época turística, sinais de enfraquecimento da vitalidade urbana e, embora sendo capital da província, Talavera de la Reina, centro industrial, é mais importante.
Évora, ao contrário de Toledo, não apresenta sinais evidentes de perda de vitalidade como centro urbano e, analisando um pouco em pormenor a Rua da Selaria, rua que atravessa a muralha romana, as Alcáçovas de Cima e de Baixo, com duas torres mandadas destruir pelo Infante D. Henrique, confirma-se esta ideia. Esta rua apresenta um traçado sensivelmente este-oeste, correspondendo ainda à Decumana da cidade romana e é uma rua onde se mergulha na história mais antiga de Évora. Algumas das actividades que nela se desenvolvem evidenciam a sua vitalidade: um restaurante de luxo, um pátio com antigas cenas de cavalaria, uma papelaria, uma loja de roupa, três lojas de artesanato,, duas lojas de antiguidades (em grande parte de fabrico recente), duas pensões residenciais, dois restaurantes, uma boutique com roupa de senhora e artesanato, mas, ao mesmo tempo, três médicos (dois especialistas), duas lojas de acessórios de automóveis e motocicletas, uma companhia de seguros, um banco, uma loja de óptica e fotografia, duas ourivesarias, uma de quinquilharia, uma de roupa fina, um cabeleireiro, e já na esquina para a Praça do Giraldo, a primeira livraria de Évora  que tem, também, secção de perfumaria e de brinquedos.
Isto é, tudo ao contrário de uma cidade morta, de uma cidade histórica. Enquanto a Évora antiga, graças ao bom gosto de várias pessoas, nomeadamente do Cap. Celestino David, fundador do grupo pró-Évora, mantém um aspecto limpo e branco, outras cidades descaracterizaram-se. Évora é uma cidade tranquila que, com os seus recantos, é preciso ir  descobrindo pouco a pouco, é uma das cidades mais atraentes do país.
Mas Évora é também algo diferente. Por certo que os seus 30 000 habitantes de há 30 anos se transformaram em 50 ou 60 000, com a enorme proliferação dos subúrbios; mas esses subúrbios são ainda particularmente inorgânicos; quase não têm comércio, nem ocasional nem quotidiano, alguns têm indústria. Além da farmácia, da padaria, são bairros desmunidos de equipamentos para corresponder às necessidades crescentes da população.
O estudo de Évora parece justificar-se perfeitamente desde que se inicie com o desenvolvimento das funções da sua parte limitada pelas muralhas. Jorge Gaspar mostrou que Évora não hierarquiza o Alentejo e que a área de influência da cidade coincide com a área do seu distrito; portanto, não se pode atribuir a Évora, 3ª, 4ª ou 5ª cidade do país, o papel regional do Porto, que é a cidade de todo o Norte, ou que têm cidades com uma forte expansão como Coimbra ou Braga.
Évora é, todavia, uma cidade viva."

Orlando Ribeiro (1994). "Évora. Sítio, Origem, Evolução e Função de uma Cidade". Opúsculos Geográficos. V Volume. Temas Urbanos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. pp. 336-337.
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Nota: texto publicado pela primeira vez em 1986.

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