Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Mês de Orlando Ribeiro

"PAPEL DO OCEANO NA GEOGRAFIA PORTUGUESA

Um estudo do oceano na vida portuguesa podia ainda levar-se muito longe. Para quem vem do Mediterrâneo, onde há ilhas, como a Córsega, quase sem vida marítima, uma terra de rurais aparece, pela primeira vez, franjada de um litoral que formiga de gente e de trabalho. Mas, por importantes que apareçam, no quadro da economia nacional, as fainas do mar, elas não deixam de ser limitadas, fragmentárias, intermitentes, em confronto com o labutar permanente dos campos. Se a acção indirecta do Atlântico, cuja influência, trazida pelos ventos de oeste, cobre metade do País, é muito grande, o domínio marítimo está estreitamente confinado a uma orla costeira, que apenas no Noroeste se mostra contínua. Muitos locais de pesca, o sal, alguns areais adubados com sargaço ou marisco e ganhos assim para a cultura regular, parte muito importante  da subsistência das maiores cidades, um quinto do valor das exportações, eis o que o mar deu à economia portuguesa. Mas regiões inteiras são insensíveis à sua presença próxima. O alentejano desconhece-o na alimentação ou no trabalho; o saloio dos arredores de Lisboa dá por ele apenas quando, como em Colares, precisa de abrigar as vinhas dos ventos fortes e das partículas de água salgada.
É certo que, ainda há cinco séculos, o oceano se abriu à expansão nacional. Apesar disso, e de o português se afeiçoar ao trabalho noutros climas e ao convívio de outras gentes, a estrutura rural da Nação permanece intacta. Com razão ou sem ela, a fala do velho do Restelo foi entendida obscuramente pela massa rural. Revolvendo a leiva, alargando a seara, plantando, regando, adubando, crescendo mas agarrando-se ao chão que escasseia, este povo, donde saíram os avantureiros que abriram o caminho das outras partes do mundo. conserva-se preso ao torrão, como aquelas árvores que oferecem ao vento o grão de novas sementeiras mas cada vez mais afundam as raízes na terra."

Orlando Ribeiro (1986). Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. 4ª ed. Lisboa: Livraria Sá da Costa. p 129
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