Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Mês de Orlando Ribeiro

Castanheiro. Serra de S. Mamede, Alto Alentejo
"MATOS E ARVOREDOS ATLÂNTICOS

À acção do oceano, que atenua o calor e a secura estivais e mantém chuvas abundantes, se deve que, através do Cantábrico, algumas espécies vegetais da Europa média alcancem o território português e aqui tenham o limite meridional da sua expansão. Estão neste caso as árvores de folha caduca que, no Norte de Portugal, formam os últimos povoamentos importantes. O carvalho alvarinho ou roble, a aveleira, o vidoeiro branco das montanhas, não ultrapassam a Cordilheira Central; o carvalho negral, o castanheiro, o ulmeiro ou negrilho, o amieiro, o choupo, o freixo, o plátano bastardo, o teixo, predominam no Norte ou reaparecem no Sul só com a altitude. Algumas urzes, giestas e fetos, últimos representantes da flora lenhosa comum à Europa atlântica, ainda se encontram no Algarve. As silvas desempenham, no Norte, o papel das piteiras e figueiras-da-India no Sul, e com elas se misturam no Mondego baixo; a hera reveste muros de granito musgoso ainda na Serra de Sintra.
Os reagentes mais seguros das condições atlânticas são o carvalho alvarinho, algumas espécies de tojos (Ulex nanus em especial) e o pinheiro bravo. O carvalho alvarinho está quase confinado ao Noroeste, não desce além do Mondego nem atravessa o território português, substituído, nos planaltos trasmontanos e na Cordilheira Central, pelo carvalho negral, menos exigente de humidade. O género Ulex está representado por dezanove das vinte e duas espécies que compreende, dessas são endémicas sete e cinco variedades; parece, assim, provável que os tojos se originassem no próprio litoral português. Formam grandes povoamentos no Minho, na Beira ocidental, no Norte da Estremadura, com marcada preferência pelos terrenos siliciosos, mas não se estendem até à fronteira e no Sul reaparecem, em estreita relação com o solo que preferem e a proximidade do mar, na Serra de Sintra, na península da Arrábida e na Serra de Monchique. No Norte são roçados para camas de gado e preparação de estrume, às vezes rodeados cuidadosamente de muros e até propagados pela cultura.
O pinheiro bravo, que uns autores supõem introduzido na Idade Média e outros árvore antiga, teve em todo o caso, a partir de D. Dinis, a sua enorme difusão. Próprio dos areais da beira-mar, no Norte, espalhou-se, graças ao rápido crescimento e ao grande poder invasor, por todo o Ocidente, até ao Sado, e na Beira atravessa, pelo vale do Mondego, o território português; sobe, nas montanhas, até 1100 m e vai ganhando, lentamente, áreas cada vez mais orientais."

Orlando Ribeiro (1986). Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. 4ª ed. Lisboa: Livraria Sá da Costa. pp.101-102.

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