Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Ranchos folclóricos

Em Campo Maior, assistimos, em dois fins-de-semana consecutivos, a desfiles de ranchos folclóricos. Oriundos de várias terras do Alto e do Baixo Alentejo, desfilaram pelas ruas, exibindo-se com as roupagens que pretendem ilustrar a vida das sociedades rurais de, pelo menos, há um século. As roupas de trabalho diziam respeito a várias tarefas do campo ao longo do ano agrícola: da monda, da ceifa, da apanha da azeitona. Os pastores também estavam representados. Viam-se igualmente alguns figurantes com roupas mais elaboradas, correspondendo a pessoas de mais posses ou a trajes de festa, de passeio e de luto.

Mulher com uma "coca"

Enquanto mostra etnográfica, nada se pode apontar. Apenas me parece que, em pleno verão, com temperaturas a rondar os 40ºC, se possam sujeitar pessoas a desfilar com roupas mais próprias dos frios do Inverno. Como exemplo, refiro-me aos homens com os trajes de pastor, com safões e pelicos de pele. Parece-me que os pastores não teriam apenas roupas de Inverno e seria interessante que eles viessem vestidos com as roupas que usavam no Verão.
Outro aspecto que me merece reparo é a qualidade das roupas que, sobretudo, as mulheres envergavam. Escuras, em geral feias, contrastando até com as vistosas saias, blusas e aventais exibidas pelas campomaiorenses, nos seus grupos de saias e das que estavam vestidas como as “senhoras”. Não tenho documentos que apoiem a minha convicção de que as nossas avós não eram completamente destituídas de bom gosto e de que os tecidos que tinham nas lojas não eram todos escuros e feios.

Grupo de saias de Campo Maior

Figurantes trajados como os "senhores"

Nas noites de sábado e domingo dos dois fins-de-semana os mesmos grupos fizeram demonstrações de cantos e danças de outros tempos. Tenho na ideia, por relatos que ouvi, que no tempo em que esses bailes eram realizados, as raparigas se vestiam com os melhores fatos, até porque era a ocasião propícia para poderem iniciar ou até consolidar os namoros. Os rituais de sedução exigem que os intervenientes se apresentem da melhor forma possível para cativar a atenção e o interesse dos outros. Nunca as raparigas se iriam apresentar num baile envergando o traje que usavam para os trabalhos no campo.
Ora, o que se viu nesses espectáculos foi um grupo de mulheres mal vestidas, mais parecendo maltrapilhas, a dançar muitas vezes sem qualquer graça. O que contrasta com ranchos folclóricos de outras regiões do país, como é o caso dos do Minho, em que as bailadeiras se apresentam com roupas bonitas, muito vistosas e compondo um quadro harmonioso à vista. E o mesmo se pode observar em grupos que vêm de países estrangeiros. Os dançarinos apresentam-se com o que melhor existe na sua tradição tanto que respeita à música e coreografia, quer quanto aos trajes.
Parece-me que é altura dos responsáveis pelos grupos e ranchos folclóricos do Alentejo reflectirem no modo como procuram preservar as tradições.

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