Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Mês de Orlando Ribeiro

O Tejo e a margem esquerda, vistos do Cais das Colunas. Lisboa.
"A posição de Lisboa é única não só em Portugal mas em toda a fachada atlântica da Península. Cadiz aperta-se no seu rochedo sem água, na extremidade de uma restinga que lhe não deixa espaço ao desenvolvimento. Sevilha tem uma situação de estuário que, com o aumento da tonelagem, se tornará pouco favorável à grande navegação. Ambas fazem parte duma frente marítima tão velha como as mais velhas navegações mediterrâneas, mas deixam atrás de si terras escassamente povoadas e tardiamente arroteadas, excêntricas ao conjunto peninsular. Vigo, o grande porto actual da Espanha atlântica, abre-se para um país montanhoso, excêntrico também, por muito tempo de economia pobre e sonolenta e de acesso difícil para o interior. Lisboa, no estuário do Tejo, ocupa no litoral português a sua chanfradura mais profunda, adjacente a terras baixas e planas por onde correm faixas naturais de trânsito para  o Norte e o Sul do país. O próprio rio era uma via acessível quase até à fronteira, utilizada até que o caminho-de-ferro lhe absorveu o tráfico. Ainda na segunda metade do século XIX as minas de ferro de Alcântara escoavam a produção, transportada em barcaças que navegavam nas águas médias, pelo porto de Lisboa. Setúbal, em posição semelhante e menos favorável, está perto demais para poder disputá-la. O Porto, ou qualquer dos portos do Norte, com o anfiteatro de montanhas próximas, são cidades mais locais, embora tenham no hinterland o maior peso demográfico da orla atlântica. O Douro e o Mondego, navegáveis até longe, não possuíam contudo os recursos do Tejo: o cachão da Valeira, no Douro, só se rompeu no princípio do século XIX, o que permitiu a navegação até Barca de Alva e a extensão da vinha para Leste; o Mondego não parece ter sido acessível acima da Raiva, a montante de Penacova, onde o seu curso se "enovela" numa sucessão de harmoniosos meandros. Os portos do Alentejo tinham atrás de si a área mais despovoada do país; os do Algarve, uma região cedo desperta para a vida de relações marítimas, mas tão isolada do conjunto nacional que formava nele um reino à parte. Na situação singular de Lisboa está contido o seu destino."

Orlando Ribeiro (1994). "Lisboa, Génese de uma Capital". Opúsculos Geográficos. V Volume. Temas Urbanos. Lisboa; Fundação Calouste Gulbenkian. pp 73-74.

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