Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Mês de Orlando Ribeiro

Vista parcial de Elvas, a partir do castelo
"Entre o Tejo e o Guadiana, onde a peneplanície e os pedimentos abrem largos corredores entre relevos inexpugnáveis como que "insulados", as vilas alcandoradas do Alto Alentejo têm uma estrutura urbana semelhante: poderosos e pequenos castelos medievais e, com o extravasar para além das muralhas, vastos baluartes erguidos durante a Restauração, com fortes panos de muralhas redentes a Vauban: Marvão, Castelo de Vide, Alegrete, Portalegre, Campo Maior, mais que todas Elvas, que barrava o caminho de Évora a Lisboa e, por isso, mais poderosamente fortificada, a própria Évora várias vezes ameaçada, e muito mais, como Estremoz, Vila Viçosa... O sistema de fortificações abrangia metade da largura do País, constituindo uma verdadeira família urbana, com o núcleo do castelo dionisino, às vezes reforçado por D. Manuel, e um espaço mais vasto cingido pelos panos do muro e revelins da Restauração.
Um dos exemplos mais esclarecedores das vilas alcandoradas que se desenvolveram progressivamente é Castelo de Vide, onde a Praça Alta limita e defende um bairro de traçado geométrico e onde o perímetro urbano representa cerca de dez vezes a área das suas muralhas medievais. Poderiam multiplicar-se exemplos: Marvão, verdadeiro ninho de águias, com o seu poderoso castelo  medieval  e a muralha antiga reforçada por gigantesca cornija quartzítica, apenas recebeu muralhas na Restauração no declive em que a povoação se desenvolve, sendo este o único lado vulnerável. Évora, cercada em parte de muralhas medievais hoje desafogadas, recebeu, do lado oposto, um complexo sistema de revelins.
Em parte alguma como em Elvas se lê claramente uma cidade de núcleo muçulmano, cintada sucessivamente de novas muralhas: castelejo mouro, cerca muçulmana atravessada por um arco elegante, adro da Sé, desafogo interior e praça que foi centro social e de comércio à portas da cerca fernandina. Um sistema de fossos, baldio de gado dos vizinhos, casamatas, passagens cobertas, portas sucessivas e às vezes desencontradas, fazem desta cidade - vizinha e inimiga de Badajoz - um poderoso baluarte quase inexpugnável. À roda da cidade, mas sem penetrar nela, desenrolou-se na Restauração a batalha das Linhas de Elvas (1659), em rasa campanha, deixando a aglomeração à margem dos combates, não ousando os mais poderosos exércitos espanhóis acometer à escada, visto a altas muralhas e os fossos que as antecedem constituírem fortes obstáculos e os baluartes, os revelins e torres nos ângulos mortos estarem sempre poderosamente artilhados. Assim, não admira que Elvas se entregassem sem combates em 1580 e que nunca tenha, antes ou durante as longas lutas com a Espanha, sido tomada pela força. Dois poderosos fortes defendem a cidade pelo exterior: no maior - o forte da Graça - o próprio monte foi afeiçoado em revelins que regularizam o seu contorno natural."

Orlando Ribeiro (1994). "Achegas para o Estudo das Vilas Alcandoradas do Alto Alentejo". Opúsculos Geográficos. V Volume: Temas Urbanos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. pp345-348.

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