Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Mês de Orlando Ribeiro


Conheci o Professor Orlando Ribeiro no ano lectivo de 1973/74, quando iniciei a frequência do 2º ano do curso de Geografia. Nesse ano, o programa da cadeira de Geografia Humana I consistia no estudo comparado da Região Mediterrânea e da Ásia das Monções. Lembro-me das aulas começarem com o Professor a colocar um pequeno maço de folhas de formato A5 na secretária e de nos chamar a atenção, como futuros professores, para a necessidade de uma preparação prévia das aulas. Também nos esclareceu sobre o significado do enorme olho desenhado num painel que pontificava sobre a porta, ao lado do quadro, parecendo lançar sobre nós o seu olhar azulado. Disse-nos que estava lá para nos lembrar da importância que a observação tem para os geógrafos.
Nesse ano tive a possibilidade de começar a contactar com a obra do Professor Orlando Ribeiro. Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico e Mediterrâneo, Ambiente e Tradição eram as obras fundamentais para o estudo da região mediterrânea e que serviam de extensão ao fascínio que nos era transmitido pelo discurso produzido nas aulas. Os acontecimentos que alteraram a vida académica, a partir de Abril desse ano, impediram que o trabalho da cadeira chegasse ao fim.
Mais tarde, frequentei o seminário de Geografia Regional, orientado pelo Professor. Na distribuição do trabalho, coube-me a análise da Península Ibérica na obra Nouvelle Géographie Universelle de Elisée Reclus. Na sequência da apresentação do trabalho de seminário, o Professor convidou-me para colaborar com ele. Foi assim que, em 1977, se iniciou a minha colaboração em actividades que iam desde a preparação, para reedição de textos dispersos em várias publicações, bem como inéditos, e a recolha de informação necessária para as investigações que tinha em curso. Graças a este trabalho, tive o privilégio de conhecer uma grande parte da obra do Professor e, sobretudo, de me aperceber das suas preocupações com a divulgação e o ensino da Geografia.
Nos períodos em que não se encontrava doente, o Professor aproveitava para me orientar sobre os textos que deviam ser preparados para publicação e para estabelecer alguma sequência a fim de os integrar nas obras que tinha programado. Contudo, o trabalho final de compilação e de publicação foi realizado pela Professora Suzanne Daveau.
Em grande parte da sua vasta produção científica, o Professor aliou ao rigor próprio da investigação, uma escrita tão elegante, tão clara e acessível que podia ser entendida por leigos em questões geográficas, contribuindo assim de forma extraordinária para a divulgação do conhecimento da Geografia.
No que respeita ao ensino, muitas das suas obras foram e continuam a ser fundamentais para a compreensão do espaço geográfico. Muitos dos seus textos têm uma capacidade didáctica tão evidente, que têm sido incluídos em manuais de Geografia e de História para o ensino secundário.
Dessa colaboração também resultou algum trabalho que realizei sob a orientação do Professor,  seguindo algumas das sugestões que me foi fazendo sobre temas que também a ele lhe interessavam.
Fruto dos anos de convívio e de trabalho, fiquei com a consciência da grandeza da obra geográfica do Professor Orlando Ribeiro. Mas, também, da grandeza da sua condição humana e do notável humanista que, efectivamente, era: cientista internacionalmente prestigiado, pedagogo influente, conversador brilhante, poeta e apreciador de grandes poetas, melómano de apurado gosto pela música que partilhava connosco nas visitas e nas sessões de trabalho. 

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