Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Falando de educação...

Todos os anos por esta altura o tema educação volta a estar na ordem do dia. Este ano, a decisão do Ministério da Educação de encerrar escolas do 1º ciclo do ensino básico com poucos alunos, tem sido objecto de muita discussão nos meios de comunicação social. Muita coisa se tem dito, nem sempre com a sensatez que o assunto requer.
Na televisão os repórteres afadigam-se a perguntar às famílias das crianças o que acham do fecho da escola da aldeia. Então, lá vêm os lamentos sobre a deslocação de 10 ou 20 quilómetros para a nova escola, o estarem todo o dia longe da família e outras razões que vão prejudicar gravemente o desenvolvimento das crianças. Nestas alturas, lembro-me sempre de uma rotina diária a que assisti durante muitos anos que consistia na passagem dos autocarros de colégios (alguns dos quais dos mais conceituados de Lisboa) que, de manhã muito cedo, se iam enchendo de crianças, muitas delas com idade inferior às que frequentam  o 1º ciclo do ensino básico, e que só voltavam para as devolver às famílias no fim da tarde. Pela lógica dos entrevistados, a maioria da população dos grandes centros urbanos deve sofrer graves distúrbios por causa da vida a que foram sujeitos enquanto crianças.
No casos dos autarcas, começaram a ser mais comedidos nas críticas, apenas esperando que o orçamento do estado alargue os cordões à bolsa para custear os transportes escolares.
Quanto aos sindicatos, é daí que vêm as críticas mais violentas. Diz-se que o fecho das escolas é mais um factor de "desertificação" do interior. Evidentemente que o despovoamento do interior, com a diminuição da população jovem, é a verdadeira causa para o fecho das escolas e não consequência. 
A agricultura que, em tempos recuados, ocupava grande parte da população, entrou em decadência ou mecanizou-se. As alternativas não existem para uma população jovem mais escolarizada que procura oportunidades de trabalho e não as encontra nem nas aldeias, nem na maioria dos pequenos centros urbanos do interior. A solução é sempre a mesma: deslocação para os grandes centros urbanos do litoral ou para o estrangeiro. 
Os sindicatos, no entanto, não confessam abertamente a razão das suas posições: elas são fundamentalmente corporativas e de manutenção de um certo estado de coisas. Defender os postos de trabalho é louvável, mas não pode ser feito contra o interesse das crianças, muitas vezes esquecido quando se discutem as questões relacionadas com a educação. Em que condições podem aprender as crianças (sejam elas 10 ou 20) que estão  integradas numa turma onde se leccionam os quatro anos do 1º ciclo do ensino básico? Como pode um professor trabalhar com níveis aceitáveis de qualidade nesta situação? Durante alguns anos ouvi testemunhos de professores deste grau de ensino que se lamentavam da dificuldade em desempenharem a sua missão nestas condições e, ainda, dos constrangimentos com que se confrontavam no que respeita à socialização e aos necessários estímulos ao desenvolvimento das crianças. 
As autarquias têm-se empenhado na construção dos centros escolares, os quais dispõem de equipamentos e de pessoal que, caso decidam adoptar um projecto educativo de qualidade, podem proporcionar experiências educativas que nunca estarão ao alcance das pequenas escolas. Neste sentido, o fecho das escolas não pode ser encarado como mera medida economicista, mas como uma necessidade para melhorar a qualidade educativa.

Nota: Num comentário a um post do blogue Campo Maior na Internet fiquei a saber que em Degolados haverá mais de 35 crianças em idade de frequentar o 1º ciclo. No entanto, no próximo ano lectivo a escola da aldeia conta apenas com uma dezena de alunos. Quanto aos restantes, os pais terão decidido matriculá-los nas escolas de Campo Maior.

4 comentários:

Jack The Ripper disse...

Ora aqui está uma perspectiva que muitas vezes escapa à maioria das pessoas

Júlia Galego disse...

Jack,
Há muita gente a falar do que não sabe. Foi por estas razões que me abstive quando foi votada a moção da CDU na Assembleia Municipal.

Jack The Ripper disse...

Por vezes a árvore impede-nos de ver a floresta!

Neste caso, e digo isto com todo o respeito pela CDU, a CDU foi atrás da demagogia e da crítica fácil.
Até porque os sindicatos de que fala são da CGTP fortemente ligada ao PCP.

Já agora, quando há outra Assembleia Municipal?

Júlia Galego disse...

Jack, o sindicato a que se refere tem uma boa quota parte de responsabilidade relativamente ao estado em que se encontra a educação.
Quanto à Assembleia Municipal, a lei determina que a próxima sessão seja em Setembro. Não sei em que dia.