Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Outros natais

O ritual repetia-se todos os anos. A preparação do Natal era uma festa. Na chaminé afastava-se o fogão de gás para dar lugar ao madeiro e às achas que crepitavam, dando calor e alegrando a cozinha. A partir daí cozinhava-se nas brasas da lareira com as panelas de barro vidrado. No dia 24, pela tardinha, começavam a chegar os filhos que estavam longe, migrados para uma Lisboa a que a falta de trabalho na vila tinha obrigado a demandar em busca de uma vida mais desafogada.
Ultimava-se o jantar. Não havia ainda a moda de cozinhar bacalhau porque este era o peixe dos dias normais, naquele tempo ainda dos mais baratos. Assava-se lombo de porco e um petisco muito apreciado que era coelho bravo assado nas brasas, desfiado e temperado com uma mistura de cebola picada, alho, salsa, azeite e vinagre. O recheio das azevias já estava pronto e a massa era amassada já no fim do dia. Durante o serão havia de ser estendida com o rolo sobre a tábua do tender o pão, cortada com o cartel e frita em azeite que crepitava num tacho assente sobre uma trempe, sob a qual se iam mantendo as brasas bem vivas. As filhós e as azevias iam saindo estaladiças e, depois de polvilhadas com açúcar e canela, não havia ninguém que resistisse a ir provando estes deliciosos fritos tradicionais do Natal. Passava-se o serão à volta da lareira, alargando-se a roda à medida que iam chegando os membros da família.
Depois era a festa das crianças. À meia-noite o Menino Jesus vinha trazer as prendas: uns chocolates, umas meias ou outra qualquer peça de roupa. Claro que as figurinhas de chocolate eram as mais apreciadas.
Era um Natal sem a ida às celebrações religiosas que se realizavam na igreja. Por esses tempos, o Alentejo era considerado uma terra de missão pela Igreja Católica, dada a fraca participação das pessoas nos actos religiosos.  
No dia 25, era a altura de cozinhar o perú que antes tinha sido devidamente tratado: embebedado ainda em vida com aguardente e depois atrozmente degolado para se aproveitar o sangue que iria servir para fazer o arroz de cabidela do almoço. Para o jantar, canja e perú assado.
Depois, no dia seguinte, tudo voltava ao que era a vida de sempre.

4 comentários:

Anónimo disse...

"Depois, no dia seguinte, tudo voltava ao que era a vida de sempre"

... á vida miserável de sempre.

Acacio Moreira disse...

O mais fantástico da vida é estar com alguém Que sabe fazer de um pequeno instante um grande momento...
Bom Natal um 2010 em grande.
Acácio Moreira

* J Pinto disse...

Está um frio brutal
Mas não te esqueci
Porque hoje é Natal
Lembrei-me de ti.
***BOAS FESTAS***

Helena Teixeira disse...

Olá Júlia!
Pronto,já estou a salivar com tanta iguaria.Ao ler o seu texto,senti-me transportada em tempos que nao conheci e também senti o cheiro dessas comidas caseiras e do madeiro.
Espero que tenha passado um bom Natal junto dos que ama e com saúde,isso é o mais importante.
Desejo-lhe um Feliz Ano Novo com tudo de bom!!!

Ah,antes de voltar em 2010,faço-lhe o convite da praxe: participe na blogagem de Janeiro da Aldeia. O tema é: Vamos ca/ontar as Janeiras e comer o bolo rei. Já sabe: 25 linhas + foto + título até dia 8/01 para aminhaldeia@sapo.pt

Jocas Festivas
Feliz Ano Novooooooooo!!!
Lena