Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

sábado, 6 de setembro de 2008

A Festa do Crato

Rua Dr. Teixeira Guerra.
À esquerda, o gradeamento do jardim do palácio Teixeira Guerra.

Era com certa estranheza que algumas vezes ouvi dizer a colegas que o Crato era um vila muito bonita. Esta afirmação não coincidia exactamente com a memória que tinha da terra. Durante muitos anos, foram fugazes as vezes que por lá passei. Nos últimos tempos já a visiei mais do que uma vez e tenho de reconhecer que os meus colegas tinham razão. Ou seja, estou num processo de redescoberta da minha terra.
O Crato é uma vila que conheceu, ao longo da sua história, momentos muito atribulados que marcaram de modo significativo a paisagem urbana. A fortaleza foi arrasada no século XVII, durante a Guerra da Restauração, mas a vila mantém ainda alguns elementos que remontam à Idade Média. Das terras que tenho visitado, tem, no que respeita à quantidade, o segundo conjunto de portas góticas, a seguir a Castelo de Vide. Durante muito tempo o granito destas portas esteve coberto por reboco ou caiação, mas agora, limpas desses materiais, exibem todo o seu vetusto esplendor.
Os palácios e casas dos séculos XVII e XVIII são o testemunho de um período de prosperidade da vila, baseado sobretudo na exploração agrícola. No século XIX e primeira metade do século XX, foi um centro dotado de duas importantes unidades industriais relacionadas com a agricultura: uma moagem e uma metalúrgica. No entanto, a evolução tecnológica ditou a extinção destas fábricas. Uma boa parte da população foi obrigada a migrar para os grandes centros industriais que entretanto iam crescendo no litoral. Actualmente, a população residente no concelho pouco ultrapassa as 3800 pessoas e, na sede, será inferior a 1800.
Pelo que pude observar, no campo, é a exploração pecuária, sobretudo o gado bovino, que agora se destaca. Ainda existem algumas indústrias mas nada que se compare aos tempos áureos em que, da Metalúrgica do Crato, saía à hora de almoço ou no fim da jornada de trabalho, uma autêntica multidão de operários, com os seus fatos-macaco de ganga azul. O comércio e os serviços são as actividades que predominam.
Numa terra de tão limitados recursos, é notável a realização de um evento como é o caso do Festival do Norte Alentejano, Feira de Artesanato e Gastronomia do Crato. Este ano, estive lá num dos dias e fiquei impressionada com o nível de profissionalismo que toda a organização revela. É evidente que os espectáculos atraem muita gente. O antigo Rossio, é um espaço muito bem aproveitado para uma realização desta dimensão e que se enche de gente. Um ouvido mais atento, percebe perfeitamente que a grande maioria são forasteiros, alguns até espanhóis.
Um dos aspectos que notei foi a preocupação das pessoas em colocar os recipientes de bebidas e as embalagens nos muitos contentores que havia espalhados pelo recinto. Contrariando esta imagem, as jovens fãs de uma banda muito em voga, deixaram no chão, junto ao palco, um número de garrafas de plástico quase proporcional ao grau da sua excitação.
Enfim, a Festa deixou-me uma impressão muito positiva.

8 comentários:

Anónimo disse...

O que nunca consegui perceber foi a caiação da muralha em ruínas. Cá para mim, as ruínas (enquanto monumentos antigos) têm de parecer exactamente aquilo que são.
Aceito a explicação para o reboco no castelo de Evoramonte, pois parece que originalmente estava revestido com argamassa.
Aceito a pintura do Palácio da Pena com cores vivas, a que não estávamos habituados, mas que eram assim inicialmente, desbotando com o tempo.

Mas a muralha caiada, não sei...

(camionista)

siripipi alentejano disse...

Permita-me que inicie o meu comentário com o título de uma canção de Marco Paulo "Eu tenho dois Amores". julgo que a Júlia detem também este dilema, pois eu sou filho adoptivo do Crato e a Júlia de Campo Maior. Os tempos que vivi no Crato foram maravilhosos, as suas gentes são de uma hospitalidade sem fim e sabem cultivar a amizade. Por ter lá trabalhado durante muitos anos, tive o privilégio de que os meus filhos tenham ali nascido, sendo Cratenses de alma e coração.
Quanto à Feira do Artesanato e Gastronomia do Crato, como eu gosto de a chamar, é sem dúvida a maior manifestação sócio-cultural que se realiza no Norte Alentejano e ao longo dos seus vinte e quatro anos de vida evolui e hoje é um certame que se paga a si próprio e que leva bem longe o nome do Crato.
A Feira nasceu em 1984 com a reaçização da 2ª Feira do Artesanato e Gastronomia da Região de Turismo de Sâo Mamede e no ano seguinte passou a ter a denominação actual. No seu início limitou-se a fazer uma mostra concelhia onde todas as freguesias participavam com seu artesanato e a gastronomia fez reviver pratos e doces tradicionais do Crato. Há um doce, hoje muito apreciado e que só se faz no Crato e em Olivença, o Téculameco, é um doce feito à base de acúcar, ovos e toucinho.
O Crato é também uma Vila com história, tem um património monumental belíssimo (Mosteiro de Flôr da Rosa e o Castelo do Crato) quanto a este, por ser um momumento privado, o actual dono Arquitecto Teixeira Guerra e com o beneplácito do I.P.P.A.R. desfigurou-o. As portas góticas, muitas delas foram posta a nú no mandato do falecido Padre Belo e por acção do Arquitecto Sequeira Mendes, consultor do Município, também não nos podemos esquecer do vasto espólio megalitico, designadamente a Anta do Tapadão (Aldeia da Mata) e Necrópole Romana de Vale do Peso.
Campo Maior, 8 de Setembro de 2008
siripipi-alentejano

Júlia Galego disse...

Camionista
Não me fale de coisas tristes. Já me explicaram vagamente que o castelo foi cedido a um particular que tem feito aquelas "obras". Não é só a caiação, mas as estruturas de betão que lá estão, ainda por cima inacabadas (não sei se é bom ou mau estarem assim).

Júlia Galego disse...

Camionista, ainda não tinha lido o comentário do Siripipi quando respondi ao seu.
Ele responde com mais conhecimento ao problema que me pôs.

Júlia Galego disse...

Siripipi, o Crato tem conhecido uma evolução notável de recuperação e protecção do património, embora com a triste excepção que é o castelo.
É evidente que isto só pode acontecer quando à frente dos municípios exista gente com capacidade, vontade e sensibilidade para cuidar do que os nossos antepassados nos deixaram.
Revisitei há pouco tempo a Anta do Tapadão que é um monumento extraordinário. Percorri as ruas e fui rever algumas fontes. E gostei do que vi.

Zé Camões disse...

boas vim só deixar cumprimentos.

Anónimo disse...

Como nunca residi realmente no Crato, embora lá fosse todos os fins de semana, sempre tive uma visão da vila mais de visitante, que só vê o que é bom, do que de habitante, o que faz com que sempre tenha apreciado todas as suas belezas.
Infelizmente já não tenho lá ninguém de família chegada o que motiva a que, por vezes, se passem meses sem lá ir. No entanto ainda não houve um único ano em que tenha faltado às festas que são fantásticas e já reconhecidas a nível nacional.
Para concluir este comentário posso dizer sou uma cratense dos "sete costados" e adoro a nossa terra, acreditando piamente que é a mais linda de Portugal e arredores. Ou pelo menos é a que me faz bater mais forte o coração.
Beijinho

Júlia Galego disse...

daplanície
Eu vivi lá durante vinte anos. Depois saí e já lá vai muito tempo. O Crato de hoje não é o do tempo em que lá vivi. Tem menos gente, mas está mais cuidado.
Beijinho