Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Sotaques

Quando os cómicos ou comediantes da nossa praça compõem personagens alentejanas adoptam um sotaque como se todos os alentejanos falassem da mesma maneira. Criaram assim um estereótipo que corresponde apenas a parte da realidade, talvez mais próxima de algumas áreas do Baixo Alentejo.
Só para falar do Nordeste Alentejo, como é diferente o modo de falar das pessoas de Campo Maior, de Portalegre ou de Nisa!!!
As influências que determinaram estas diferenças são muitas. É evidente que as terras mais próximas da fronteira assimilaram muito do castelhano e daí o modo de falar mais cantado e arrastado, com palavras vindas directamente ou adaptadas do outro lado da raia.
Quem já ouviu falar um natural de Nisa não pode deixar de notar a semelhança com o sotaque açoriano. Até ao século XIX, as terras de fronteira precisaram sempre de ter bastante população para assegurar a sua defesa. Quando não acontecia espontaneamente, os poderes instituídos procuravam que estas terras mantivessem uma população em número suficiente para precaver uma eventual investida dos castelhanos. Algumas foram colonizadas por foragidos à justiça que a elas se acolhiam porque estavam fora de qualquer jurisdição (os coutos de homiziados), de que é exemplo, nesta região, Arronches. Nisa terá acolhido colonos vindos dos Açores, o que explicará o modo peculiar de falar das suas gentes. Mas este modo de falar prolonga-se para Sul, embora com alguns cambiantes. No Crato ainda se fala com as vogais bastante fechadas.

2 comentários:

Carlos Rebola disse...

Júlia

Obrigado por esta lição de história voltada para fonética.
è sempre bom haver alguém como a Júlia que nos explique o porquê das coisa, neste caso do "sotaques"
Acrescentando mais valor à nossa valiosa língua portuguesa.
Abraço
Carlos Rebola

Ze disse...

Não deixa de ser curiosa essa interpretação da semelhança entre o dialecto açoreano (de notar que nao é o dialecto açoreano mas antes o dialecto micaelense que é muito distinto dos das outras ilhas e esse sim tem muitissimas semelhanças foneticas com o dialecto do norte alentejano e sul da beira baixa, nomeadamente o "u" francês.

De facto nunca vi escrita essa sua interpretação. Embora ate ha pouco tempo se acreditasse que o sotaque micaelense tinha sido influenciado por povoadores oriundos da bretanha, tal pressuposto esta hoje completamente afastado.

Actualmente cre-se que a região compreendida entre o sul da beira baixe e norte alentejano num territorio que aprodximadamente vai de castelo branco a portalegre, tenha sido povoada por colonos francos oriundos do sul de frança e daí os varios toponimos que encontramos na região, nomeadamemnte Nisa (Nice) Tolosa (Toulouse) montalvao (Montalban), Proença (Provença), Arez (Arles), Tolões (Toulons), etc.

No seculo XV a liguagem destas populações ainda teria muita influencia francesa e o povoamento da ilha de sao miguel por gente vinda do norte alentejano teria determinado aquele tao caracteristico dialecto, que no fundo é o dialecto da região de Nisa que se falava no seculo XV.