Gambozino é uma animal imaginário.
Andar aos gambozinos, significa andar à toa, vaguear, vadiar, vagabundear.
É isto que eu prendendo: vaguear por vários assuntos, vários lugares, ao correr da imaginação e da disposição.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Elementos das portas de Campo Maior

Um dos meus interesses, desde há algum tempo, consiste em fotografar alguns aspectos e, sobretudo, pormenores das cidades, vilas e aldeias da região norte alentejana. No entanto, há coisas que nos escapam se não estivermos despertos para as ver. Durante muito tempo, não reparei em elementos das portas das casas que são, por vezes, autênticas obras de arte. Refiro-me, concretamente às aldrabas e batentes que se podem observar quer em portas antigas, quer em portas mais modernas.
As aldrabas, peças colocadas na parte exterior da porta, serviam para, fazendo uma rotação, a abrir por fora, elevando a tranqueta colocada no interior. Tinham, geralmente, formas simples sendo as argolas as mais usuais. Actualmente, as que ainda existem, já não têm esta função, por motivos de segurança. Foram substituídas por fechaduras e servem apenas para bater ou para puxar a porta.
Os batentes têm só a função de bater à porta. Mas as suas formas são muito variadas. Muitos reproduzem mãos ou caras humanas, entrando na categoria dos antropomórficos. Alguns, os zoomórficos, são inspirados em animais de aspecto mais ou menos aterrador, parecendo que guardam as casas das más influências. Outros, têm formas mais ou menos estilizadas.
Os materiais de que são feitos são o ferro, forjado ou fundido, o bronze e o latão.
Em Campo Maior descobri algumas aldrabas e uma grande variedade de batentes, alguns antigos, outros mais recentes. A tradição de colocar batentes nas portas mantém-se e mesmo algumas modernas portas de alumínio continuam a ostentar este elemento que até pode coexistir com campainhas eléctricas. Neste caso, a sua função é sobretudo decorativa. Alguns dos mais recentes são comprados em Espanha, mas a sua qualidade é muito inferior quando comparada com os batentes mais antigos.

Este batente de ferro forjado foi um dos primeiro que fotografei. Pertence a uma casa da Praça da República e deve ser produto do artesanato local, ou seja, das oficinas de ferreiro que, até meados do século XX existiram na vila. A casa tem duas portas e cada uma delas possui um batente semelhante, mas não igual. Há diferenças de pormenor, o que é normal no tipo de produção artesanal em que cada peça é única.


Este batente, de uma casa no Largo do Barata, tem a particularidade de estar datado, o que é caso raro. Reproduz uma cara feminina que é enquadrada pela argola do batente propriamente dito. Só é pena que as sucessivas camadas de tinta esbatam os pormenores do trabalho em ferro fundido.
Batentes como este deveriam ser objecto de protecção para não se dar o caso de se perderem num qualquer depósito de ferro velho, quando as antigas portas são substituídas por já não oferecerem garantia de segurança.



Estes grandes batentes podem ser admirados na Rua de Pedroso, no edifício que foi, primeiro, quartel da Guarda Fiscal e, depois, da Guarda Nacional Republicana. São peças notáveis na sua simplicidade. Este edifício está devoluto, constando que a Câmara Municipal irá lá instalar alguns serviços. Só espero que as obras de adaptação que vierem a ser feitas não tenham como consequência o desaparecimento destes batentes.

Embora não estejamos habituados a que os responsáveis sejam receptivos a sugestões, proponho que seja encontrada uma forma legal de considerar estas peças como património de interesse municipal.


Nota 1: Devido à quantidade de material fotografado, quer em Campo Maior, quer noutras terras, criei um blogue especificamente para a divulgação destas peças e de outras existentes nas portas: http://aldrabas-batentes.blogs.sapo.pt

2 comentários:

Ana disse...

Gostei muito do texto J�lia, simples e objectivo, mostrando o melhor do nosso pa�s , aquele patrim�nio que muitas vezes n�o reparamos - tal como j� tinhamos comentado- mas que est� aqui para n�s o salvaguardarmos.
Um abra�o!

Anónimo disse...

Olá Júlia
A descoberta arte está na capacidade estética e sensibilidade de quem descobre. Porque tantos também com olhos e boa visão não vêm o que Júlia vê.
Obrigado, trouxe-me à memória uma série de figuras de ferro fundido que toquei tantas vezes desde a mãozinha à cabeça de leão.
Um abraço e bom Domingo
Carlos Rebola